1 de agosto de 2014

Não parece...

... mas é Verão.














No Verão tudo se passa calmamente, até o tempo demora um pouco mais. 
Vejo as fotos do meu filho no Alentejo e lembro-me dos meus Verões de miúda, dos três intermináveis meses de férias e de todas as aventuras que inventava para me entreter. Lembro-me sempre de me sentar em cima das calhas velhas da rega para ficar mais perto das ameixas e encher a barriga de fruta directamente da árvore. A água passava, e o som que fazia era a única coisa que se ouvia.
E as melancias, as melancias de vários quilos que nasciam por lá. O meu tio Eduardo (tio avô) tinha um orgulho, acho que por estes dias de Verão inchava tanto como elas. Toda a gente lhe conhecia as melancias. 
Pelo fim de Agosto a chuva aparecia e perfumava a terra inteira, era uma chuva rápida e refrescante, eu tinha sempre a desculpa de ajudar a tapar a palha (para não apodrecer) para andar à chuva. 
Andava muitas vezes descalça, tomava banhos no tanque grande (da rega), aprendi a ordenhar, aprendi a conhecer as plantas, aprendi a respeitar os ciclos. 
Nunca me apercebi do tanto que estas férias me davam até ter ficado alguns anos sem lá ir (de férias) e depois voltar. Às vezes tenho vontade de voltar de vez, como se tudo aquilo fosse parte de mim e também as minha raízes lá tivessem ficado plantadas na terra. 
Este sitio onde passei a minha infância, perdi-o de vista lá pelos 15 anos quando os meus tios-avós se mudaram porque o dono quis vender a quinta, as minhas memórias pertencem um pouco a outro lado mas vivem com muita força dentro de mim. Talvez um dia passe por lá para ver se ainda existe, se tiver coragem.
Entretanto, o Verão finge demorar-se, estende-se, entorpece-nos os sentidos e achamos que vai durar para sempre. Até nestes dias menos quentes, o "frio" não pede casaco, o chuvisco não pede guarda-chuva, não incomoda tanto. Estamos mais em sintonia, protegemo-nos menos, somos mais saudáveis. 
Não parece mas é Verão.

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